3 de out. de 2011

Homenagem à D. Ana...

Descansa no meu colo tua cabeça de mulher. Deixa que eu seja teu pai, ainda que por um instante.

Vivamos o parto às avessas. Eu, que sou teu filho, por ora quero ser teu pai. Só para ter o prazer de te ver menina tão cheia de sonhos.

Só pra puxar os teus cabelos e nele colocar laços bordados de alegrias.

Cores de tempos antigos, distantes, quando nem imaginavas que um dia eu seria o teu filho.

Fica quietinha por aqui. Permita que eu cuide de tuas coisas, teu guarda-roupas tão cheio de desordens, não importa.

O remédio eu te trarei, teu alimento eu plantarei, e ajeitarei o teu travesseiro de um jeito que gostes, só para descobrir a alegria de reverter a ordem dos fatos.

Só para ter a graça de te chamar de minha filha, minha menina, minha mãe que é minha "Ninha".

Só para ter a graça de evitar teus choros futuros, tuas dores constantes, teus medos tão delicados.

Medo de me perder, de que eu morra antes da hora, e de que não estejas por perto no momento em que eu precisar de tua mão, como no passado, quando me conduzias contigo, como se fossemos um só, um nó de gente,
amarrado e costurado no amor que Deus esqueceu no mundo e eu vi de perto refletido nos seus olhos, quando a vida nos apresentava motivos para perdermos a esperança.

Oh minha mãe! Que saudade eu sinto de nós dois juntos!

( Padre Fábio de Melo )